O Campeonato de Portugal de Velocidade (CPV)/Supercars Endurance by Hankook está de volta, nos próximos dias 2/3 de julho, ao mítico circuito urbano de Vila Real, cuja história está recheada de capítulos inesquecíveis, como a corrida “louca” do CPV em 1982, na qual António Rodrigues e Mário Silva, ambos nos Ford Escort de Grupo 4, deixaram o público ao rubro, com sucessivas ultrapassagens a alta velocidade… da primeira à última volta.
Este regresso da principal competição de velocidade a um palco de excelência como a pista transmontana, agora com uma grelha de carros tão espetaculares como os McLaren 570S GT4, o Audi R8 LMS e os Porsche 911 Cup, a que se juntam os diferentes TCR, não deixa de evocar memórias do passado. E foi há precisamente 40 anos que a corrida do Campeonato Nacional de Velocidade (hoje CPV), então do Grupo B2, juntando Ford Escort RS 1800 e Porsche 911, entrou para a história como, talvez, a mais competitiva de sempre e que maior espetáculo proporcionou naquela pista urbana.
“Ainda hoje as pessoas que gostam de corridas recordam a prova do Campeonato Nacional de Velocidade em Vila Real no ano de 1982, com o despique dos Escort, protagonizado por mim e pelo Mário Silva, com ultrapassagens entre nós em quase todas as voltas”, recorda António Rodrigues no livro “António Rodrigues – Histórias de 19 Anos nas Corridas”, cuja primeira edição foi editada em 2014.
“O Jorge Petiz, que estreava um Porsche 911, verde, decidiu até abandonar a corrida antes do fim, por considerar a condução dos adversários – eu e o Mário… – perigosa. Pouco antes disso, tínhamos ultrapassado o Jorge numa curva para a direita, eu por fora e o Mário por dentro, numa manobra que, pela imprevisibilidade, talvez o tivesse assustado. Foi uma corrida memorável! Conseguiu empolgar os espetadores e, em termos de competitividade, terá sido uma das melhores de sempre em Vila Real. Na última volta eu seguia em primeiro, mas no final da subida atravessei-me um pouco e o Mário aproveitou para me ultrapassar e vencer de forma meritória”, acrescentou o mesmo Rodrigues, que na altura guiava o Escort branco e azul e terminou esse ano como vice-campeão.
O seu grande rival na época, Mário Silva, que acabaria a época como campeão – na última corrida, no Estoril, alugou um Porsche 911 à equipa francesa dos irmãos Almera venceu e sagrou-se campeão nacional –, também não esquece essa prova épica no circuito de Vila Real…
“Qualquer um de nós poderia ter ganho, por acaso fui eu o vencedor, mas se tivesse sido ele [António Rodrigues] dava-lhe os parabéns com todo o gosto. Logo nas primeiras voltas, quando o Jorge Petiz, com um Porsche, estava na frente, a descer a Timpeira, eu, já com o carro em desequilíbrio, ultrapassei-o pela esquerda e para espanto meu logo a seguir aparece, pela direita, o Toni Rodrigues à frente da corrida. Havia uma paragem de autocarro e ele aproveitara esse espaço para a ultrapassagem! Ninguém se tocou, mas o Porsche do Jorge Petiz foi, por momentos, como que ‘ensanduichado’ por nós. Os Escort, carros de ralis adaptados para a velocidade, eram muito iguais, em termos de andamento, como se fossem de um troféu, e até ao final da corrida sucederam-se as ultrapassagens, inclusive várias na mesma volta. Tive sorte, porque quem estivesse à frente na chicane de entrada na cidade depois teria vantagem, já que seria impossível conseguir ultrapassar até cruzarmos a linha de meta”, refere Mário Silva no mesmo livro que retrata, com diversos testemunhos, a carreira de António Rodrigues, um dos nomes grandes da velocidade portuguesa ao longo de duas décadas.
No primeiro fim de semana de julho, em Vila Real, o Campeonato de Portugal de Velocidade/Supercars Endurance by Hankook terá duas corridas inscritas no programa, ambas com a duração de 45 minutos e uma paragem obrigatória nas boxes.
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